Tese – Um estudo sobre a transferência em Winnicott no caso Piggle


Resumo

O objetivo desta pesquisa é mostrar que a transferência analítica, no contexto da prática clínica de Winnicott, não se resume à diferenciação, proposta pelo autor, entre a neurose de transferência e a transferência de qualidade psicótica (por ele observada nas fases de regressão à dependência absoluta, durante a análise dos casos borderline, ou nos momentos psicóticos do tratamento de pacientes neuróticos ou de pessoas normais), abarcando outras formas transferenciais que podem ser visualizadas à luz da teoria winnicottiana do desenvolvimento emocional. No presente estudo, assinalamos que o autor distinguiu as formas de transferência com base em suas ideias acerca do processo de desenvolvimento emocional humano, por ele concebido em termos de ego (ou estrutura básica da personalidade ) e de vida instintiva (ou id) e relações de objeto propriamente ditas (isto é: relações que, no plano da experiência do indivíduo, ocorrem entre pessoas inteiras no contexto da dinâmica triangular, a três corpos, que caracteriza a situação edípica). Em decorrência dessa ênfase, o estudo visa contribuir, igualmente, para o melhor entendimento das propostas de Winnicott que reavaliam e reposicionam, no âmbito do processo de maturação dos seres humanos, o lugar da vida instintiva e das relações de objeto propriamente ditas. Esta investigação foi realizada por meio do estudo de material clínico selecionado do caso Piggle. Além de assinalar, de modo pontual, alguns aspectos da reinterpretação winnicottiana da transferência de qualidade neurótica, bem como da concepção do autor acerca da regressão à dependência na transferência, o presente estudo possibilitou esclarecer que Winnicott distinguiu, no âmbito dos fenômenos de transferência, os seguintes aspectos clínicos: capacidade de confiar no analista; necessidade egóica de o paciente criar, de modo onipotente, o analista (em relação com um aspecto do setting psicanalítico: a frequência e o ritmo das consultas); capacidade para estar só em presença do analista; organização e força de ego na transferência; transferência paterna (à luz da teoria winnicottiana acerca da situação edípica da menina); erotismo oral na transferência (no que se refere à oposição, estabelecida pelo autor, entre avidez e voracidade).
Palavras-chave: transferência, ego, id, Piggle, Winnicott.


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